31.3.07

Deve-se usar chips para os bons vinhos?


A tonelaria Verdou, fabricante de tonéis em Bordeaux,teve um aumento na venda de chips e tiras de carvalho de 200% como informou a revista inglesa Decanter em reportagem desta semana. Não que o uso tenha sido aprovado pelo INAO, agente regulador francês para os vinhos AOC, mas sim que a União Européia, UE, autorizou seu uso em 2005. O INAO ainda não publicou a regulamentação francesa para os AOC, pronta desde 2006, há interpretações considerando permitido seu uso. Há autorização na França para uso dos chips(copeaux para os franceses) nos vinhos regionais, Vin des Pays (VDP). Mas atenção mesmo a UE, para os AOC, só permite o uso após a fermentação diferentemente dos VDP.
Os chips são pedaços de carvalho que podem se apresentar sob a forma de pó, tiras ou granulados, que são utilizados durante ou após a fermentação alcoólica e buscam dar ao vinho um aroma de baunilha e madeira. Sendo um resíduo das tonelarias seu custo é ínfimo, diferentemente dos barris de carvalho. A reportagem não especifica os volumes vendidos pela tonelaria. Um aumento de venda de 200% num país em que até 2005 o uso de chips era permitido apenas em caráter experimental e, como hoje, sujeito a autorização da Aduana, Ministério das Finanças, pode não ser muita coisa, o que não invalida o debate sobre seu uso.
Conversei com Jacques Boscary proprietário do Château Rouquette Sur Mer que produz um muito bem reputado AOC Coteaux de Languedoc, La Clape, este ano com uma estrela no Guide Hachette para o seu branco e segundo o Guide um clássico. Os tintos merecem muito mais estrelas e possuem dezenas de outras premiações. Boscary afirma que tem conversado com diversos enólogos sobre o assunto. Há os que têm preconceito e não aceitam nem ouvir falar, no entanto os mais ponderados, com razão, defendem que em alguns casos, para os vinhos menores o uso dos chips pode ser interessante. Estes não são contra a priori. Quando um vinho tem pouco equilíbrio, falta fluidez e harmonia, um pouco do adocicado da baunilha e a madeira podem ajudar na manutenção da continuidade do desenvolvimento do paladar. Não é uma opção para os AOC. Eu não tenho necessidade disto uso apenas barris de carvalho franceses novos e continuarei trabalhando da mesma maneira. Mas não sou contra sistematicamente, afirma Boscary.
No Languedoc há 15 anos que se usa em caráter experimental, sob autorização, os chips para os VDP. Para o Vinifhor, Ofício National Interprofissional de Frutas, Legumes, Vinho e Horticultura, resultado da recente fusão entre ONIVINS e ONIFHLOR, que regulamenta a classificação VDP, o uso de chips passou a ser autorizado tanto na fermentação alcoólica quanto após esta. Segundo o enólogo Michel Rousset, responsável pela divisão VDP d'OC (Sul da França) deste Ofício, o uso de chips é uma técnica banal desenvolvida na França e utilizada tradicionalmente no novo mundo. Para Rousset seu uso não é simplesmente para dar um gosto de madeira ao vinho, este ajuda na estabilização da cor, é mais higiênico que as barricas com vários anos de uso e tem melhores condições de identificação de origem. Ao contrário do que dizem se o vinho não tiver uma boa estrutura, ficará mais magro e o resultado final será pior com a adição do copeaux. “O vinho tem de ser digno para receber o copeaux como para ser envelhecido em barricas”, assegura.
No mercado francês não há uma demanda por vinhos regionais com chips, pois aqui quando se compra um VDP se busca o frescor, o frutado, não a madeira e a baunilha. Mas em outros mercados, como o inglês, já podemos perceber uma demanda, explica o enólogo de VINIFHLOR.
Para o consumidor é importante notar que o uso do chip não permite que conste na etiqueta que o vinho foi envelhecido em barris de carvalho. Para fazer jus a esta menção é necessário, no mínimo, que o vinho tenha sido envelhecido seis meses em tonéis de carvalho. A permissão do uso dos chips na França é uma luta de anos que visa dar aos produtores do Hexágono as mesmas armas que os viticultores do novo mundo possuem. Este debate fica para uma outra matéria.