30.6.08

Harmonização: vinho e esporte




Aqui tá, fazendo um calor, deu pane no ventilador,... (Chico e Francis)
Mas de noite ainda está fresquinho. Tenho aberto umas Brahmas, mini-saia, antes de tomar um rosé, às vezes com gelo ou beber um vinho tinto de corpo leve, gamay ou pinot noir, lá de Mâcon (Borgonha).
Falando em corpo de vinho podemos dizer que um Fitou é vinho para amantes do rugby, encopardíssimo, estruturadíssimo passível mesmo de ser mascado. Pros amantes do futebol defensivo sugiro um Minervois, potente, tânico e persistente. Para os que gostam do esquema 4-3-3 um Corbières, macio, envolvente e sinuoso. Para os apaixonados pelo vôlei sugiro um Coteaux du Languedoc La Clape, elegante e longo, mas se for vôlei de praia recomendo uma Blanquette de Limoux, viva e refrescante. Para os amantes do tênis, em quadra de saibro, do jogo de fundo de quadra, recomendo um Saint Chinian Berlou, complexo, belo corpo e potente. Para quadras rápidas um rosé sangrado dos Corbières, cor mais pra vermelho, rápido e atraente.
E para quem gosta de pelada apague a luz. Nada disto degustação às cegas.

27.6.08

Syrah uma uva nobre


Hoje vamos voltar a falar das castas do Languedoc. As uvas autênticas de um território quente. A syrah foi por muito tempo tida como uma uva originária da Pérsia, atual Irã, mas estudos genéticos confirman que se trata na verdade do cruzamento espontâneo entre a Mondeuse branca, típica da Savóia e a Duréza d' Ardèche, do Rhône.
Casta escura típica, meridional, famosa no Rhône e no Languedoc. Umas das castas que formam a base dos vinhos AOC de toda a costa mediterrânea francesa. Também é usada para produzir vinhos varietais o conhecido Vin de Pays. É uma casta nobre que se adapta bem ao clima temperado ou quente. Resiste bem à seca e se adapta a solos calcários ou ácidos. Veja só a virtude do cruzamento natural! Ganhou mundo e hoje é encontrada tanto na Austrália como na África do Sul.
De brotação tardia, maturidade de segunda época, isto é, até duas semanas após a chasselas. Hoje em dia é conduzida em poda curta e nos oferece vinhos de bom corpo, estruturados, de cor expressiva, taninos equilibrados, buquê complexo com base frutada (cassis, cereja, framboesa), compota, especiarias (alcaçuz), couro e floral (violeta).
Muitos vinhos com Syrah vão se destacar no mercado mundial. Hoje existe o Concurso Syrah do Mundo dedicado a vinhos onde a casta predomina (75%) ou reina absoluta. Bons exemplos? O Syrah do Château Camplazens, importado pela Casa do Vinho de BH, os AOC Corbières Delicatesse de Charles Cros, da Barrinhas do Rio de Janeiro, o Château Tour de Montredon Les Capitelles, da Nunes Martins e o Cuvée Mythique VDP d'OC com 50% de syrah, são todos bons representantes da expressão desta uva nos "terroirs" do Languedoc, Sul da França.

25.6.08

Hoje tem comício em Montpellier

Boris Calmette, presidente da Federação Regional das Cooperativas é presença certa no comício.

Os viticultores franceses e notadamente os do sul da França voltam a realizar, hoje, em Montpellier, um protesto para chamar a atenção do governo para ajudá-los a superar as dificuldades que enfrentam. Há três semanas as manifestações foram em Nîmes e em Carcassonne, com 15 mil pessoas presentes em cada cidade. O aumento do diesel e dos produtos fitossanitários aliado a uma queda do preço dos vinhos nos anos anteriores deixou o caixa dos viticultores, sobre tudo nas cooperativas, no vermelho.

24.6.08

Situação fitosanitária é melhor nos Corbières

Conversei ontem com Louis Fabre, produtor independente no Corbières, que me assegurou que as chuvas da primavera no Languedoc não foram tão fortes como no Gard (Rhône). No Corbières o ataque maior tem sido do oídio, um fungo. Fabre que tem parte de seu vinhedo em cultura orgânica ("bio", abreviação de biológica em francês, pronuncia-se biô) e parte em "raisonable" (politicamente correta, que busca respeitar a natureza sem ser orgânica), está sendo obrigado a tratar mais vezes, especialmente nas parcelas biô, que exigem constantes passagens de enxofre, que faz efeito por menos tempo.
Fabre é um bom produtor com vários vinhos premiados. Destaque para seu Corbières, viognier e sauvignon.

23.6.08

Forte ataque de míldio no Sudeste da França - AOC Costières de Nîmes


O forte volume de chuvas no Languedoc e em particular no departamento do Gard, colocou os viticultores em alerta neste final de primavera. Segundo a Metéo France, a meteorologia francesa, somente em 1949 choveu tanto na região. Desde maio as precipitações atingiram 250 a 300 mm.
Segundo o diretor da Câmara de Agricultura do Gard, Jacques Oustric.
Estas chuvas foram distribuídas de tal forma que propiciaram as condições ideais de desenvolvimento do míldio, um fungo, e atrapalharam os tratamentos programados. Os ataques nas regiões menos atingidas são essencialmente nas folhas, nas demais também os cachos foram atingidos. Em lugares mais úmidos e com parcelas mais vigorosas a totalidade da colheita foi destruída. Em alguns locais onde as parcelas do vinhedo foram muito atingidas alguns agricultores fizeram a opção econômica de simplesmente parar o tratamento. A luta contra o míldio, este ano, exigirá cinco passagens até o final de junho, o que significa o mesmo número de todo o ano anterior. “Se o verão for seco teremos seis passagens de tratamento, mas se for um verão chuvoso teremos oito ou mesmo nove”, afirma Jacques Oustric.
Não bastasse o míldio, o oídio, outro fungo, também está atacando com força os vinhedos. No norte do Gard há também a presença do “black rot”, provodado pelo fungo Guignardia bidwellii . Ainda não se sabe o impacto exato sobre a colheita.
Geograficamente situado na Região do Languedoc Roussillon, o Gard tem seus vinhedos, AOC Costières de Nîmes, historicamente ligados ao Vale do Rhône, pois fica na margem direita deste.

21.6.08

Miss France promove vinhos e alimentos do Sul da França

A nova garota propaganda dos vinhos do Languedoc Roussillon é a Miss France 2006, atual Miss Europa. Nascida em Béziers, no departamento do Hérault, Sul da França, Alexandra Rosenfeld (foto) está nas telinhas francesas representando chapéuzinho vermelho que modificando o conto de Perrault soterra o lobo mau graças a uma chuva de azeitonas. Sorrindo diz ao final da cena - " Sul da França, a marca que muda o curso da história." O cenário é um vinhedo, técnica usada para driblar a proibição de fazer propaganda de vinho na TV. O spot promove as frutas, queijos e azeites da região. Uma iniciativa do governo regional para ampliar a comunicação da marca Sud de France.


Noctambulles é o primeiro espumante VDP d'Oc


Noctambulles é o primeiro espumante VDP d'Oc

O sindicatos dos Vin de Pays d'Oc (vinhos regionais) depositou a marca comum Noctambulles para vinhos espumantes. O objetivo é criar espumantes com o selo VDP d'OC, o melhor em se tratando de vinho regional. Para tal o vinho de base deve ser VDP d'OC. Um caderno de encargos foi criado para garantir a qualidade do produto. Antes havia o AOC Limoux e os demais eram vinhos de mesa.
As primeiras garrafas devem chegar este ano. Mas o lançamento oficial será apenas na Vinisud 2010.
Para quem não lembra Oc quer dizer oui (sim) em Occitano, língua de forte origem latina ainda falada pelos antigos no Languedoc.

20.6.08

O verão, o sol, as vinhas e as greves no Languedoc



Ciclo de vida do verme do cacho: da larva, casulo, mariposa e o ataque no cacho.

Vai chegando o verão e com ele o vôo das andorinhas, o canto das cigarras, o calor do sol e as greves dos sindicalistas. O porto de Marselha, Fos Sur Mer, com sua greve vaga-lume leva milhares de “containers” a procurarem outros portos, como o de Barcelona. Os caminhoneiros lançaram uma operação tartaruga nas estradas. Na moderna, longa e bela ponte de Millau, também no Languedoc, foram as enfermeiras que pararam ontem o trânsito.
Após as chuvas da primavera, e como precisávamos de chuva, o tratamento da vinha tem de ser retomado de imediato. As poças provocadas pela chuva criam as condições ideais para o ataque de fungos como o mildio e o oídio. Especialmente neste momento do estado fenológico das vinhas: floração ou bagos do tamanho de petit pois. A sensibilidade da vinha é grande e todo cuidado é necessário. O tratamento contra o oídio é fundamental até que o cacho esteja compacto. O ataque do mildio é presente em todo o Corbières e Fitou, nos informa a Câmara de Agricultura do Aude. É bem verdade que este ataque acontece em toda a França. Em alguns territórios como em Lézignan (Château Etang des Colombes) e Fabrezan (Château Ribaute) temos também neste momento o vôo das mariposas (Eudemis) que trazem o verme do cacho.
Mas de fato é bom voltarmos a ter um bom fim de semana com sol. Com temperaturas oscilando de 23ºC a 28ºC. Isso posso afirmar hoje, por que ontem Meteo France estava em greve.

16.6.08


Os alunos do I Curso de Enologia na França criaram raízes no Languedoc. E não é que a arte de trovador renasce em terras mineiras inspiradas pelo cenário medieval do Languedoc? A antiga arte que havia desaparecido durante a cruzada albigense ressurge na terra das montanhas, do ouro de outrora, do leite e dizem que hoje até vinho nos oferece .
Nossas aventuras em terras Ocitanas contadas em prosa e verso por nosso trovador de Cataguazes o aluno Heleno Miranda. Foto montagem em qualidade Tabajara, sou ruim nisso, com Heleno Miranda.

Diário de viagem
Pois eu trouxe o nosso livro comigo
E pus dentro o teu retrato,
para que ouvisses,
enquanto estudo e devaneio
em meio às parcelas do Languedoc.
E queria que o teu coração
de uvas e de aromas
suspirasse por mim, enquanto pastoreio
por entre vinhos e vinhas.
Depois de tantas horas de vôo
tua imagem sobrevive
e é teu pensamento
que me povoa.
Saiba que esses vinhateiros do Languedoc
têm a nossa alma de camponês
e discorrem sobre os seus vinhos purpúreos,
como falamos dos nossos amores.
Várias vezes tive vontade
de abraçar meus cúmplices de viagem,
mas permaneci sem voz, como um antagonista,
só porque ainda não tinha saído de Minas.
Mas deixa que eu copie o poeta
e diga sem frescuras que
"tu és o pão de cada dia
para a minha alma".
Ajoelhei-me, hoje, na Catedral,
perante o silêncio secular de Saint Hilaire,
como um prisioneiro destas pedras
e deste frio voluptuoso
que fermentaram o ancestral vinho espumante.
E quero te contar que, entre cascalhos e xistos,
que nascem em Fitou em Languedoc,
é onde Marie Vallete plantou e colheu seus vinhos
temperados por funchos, tomilhos e alecrins
e fermentados na sua alma sábia e generosa.
Elegi L’Entre Temps meu restaurante favorito,
especialista em foie gras mi-cuit à la figue
e que tem um Muscat delicioso;
Mas o Meli Mèlo é uma espécie de ministro
cátaro de todo o sul da França, farto e alegre,
com suas intrigantes e imaculadas
costelas d’agneu.
Todavia foi em Bages que jurei,
para o mar que batia nas minhas costas,
que te traria no Le Portanel,
para oferecer aos teus olhos
a visão mediterrânea
de enguias, ostras e alfaces.
O meu melhor vinho?
Foi um 98, feito pelas mãos
e pela história de Rémi Bonnet,
filho da terra, folha de outono,
púrpuro como os outros do Pays de L’Aude,
mas com a entonação exclusiva
da alma do Minervois la Livinière, em Cesseras.
Finalmente, quando eu for,
irei sonhando com a tua boca
preparada para o meu beijo.
Estarás perplexa e eu radiante,
(te levo um diploma)
depois beberemos e terei saudade.
Ah, sim! Em Narbonne,
Quem sobe pela rua 1er de Mai
e chega à Place Sarbone,
há de ver uma casa alta com paredes amarelas,
onde imprimiram um poema, de Charles Trenet,
em letras vermelhas, e cujos primeiros versos eu traduzo:
"Há muito, muito tempo, depois que os poetas se foram,
as suas canções ainda correm pelas ruas.
A multidão canta, distraída, essas canções,
ignorando o nome do autor
e sem saber por quem batia seu coração..."
Te vejo depois de amanhã, um beijo.
Narbonne, 30 de maio de 2008

12.6.08

DIVO humor e vinhos autênticos



Nas etiquetas pode se ler DIVO Nós não vendemos qualquer vinho.
Fazendo referência às etiquetas: do Château Mal Escolhido e do Côtes da Usina -"Você não cansou de beber estes vinhos?"

Muito se fala sobre a defesa do vinho autêntico, contra a internacionalização do gosto do vinho e sua pasteurização. Mas ninguém foi tão longe como DIVO (Defesa e Ilustração dos Vinhos de Origem) que desde 1936, na Suíça defende os vinhos de personalidade. Criado pelo jornalista e filósofo Constant Bourquin é além de um movimento de idéias, com uma revista trimestral e palestras nos quatro cantos da Europa, uma loja de vinhos europeus autênticos.
Combater a uniformidade dos vinhos com humor e lutar contra a corrente da massificação do gosto no ponto de venda não é tarefa fácil. Defender o vinho de personalidade, o terroir, a cultura, a casta autóctone enquanto jornalista é uma coisa. No campo de batalha contra Carrefour, Casino (Pão de Açúcar) e outros grandes supermercados é outra história.
Hoje temos grandes críticos como Dusser Gerber, que sempre defendeu o vinho autêntico e até mesmo um Parker que começa a valorizar as castas autênticas. Campeão da standardização é o Novo Mundo, Chile em primeiro, ganharam mercado padronizando gostos. Como me disse Francesco, PDG da Pernod Ricard no Brasil, "quando meu cliente for a uma prateleira comprar um vinho sirah quero que ele seja igual todos os anos, que ele não se confunda, que ele seja sempre o mesmo". É exatamente contra isto que luta o DIVO. E eu também e muitos produtores do Sul da França.

11.6.08

Aprenda com quem Faz

Professora Marie Valette recebe flores dos alunos

A edição deste mês de La Revue du Vin de France faz um apanhado geral da safra 2007 na França. Nada que nossos leitores não soubessem. Todos os vinhedos situados na costa Mediterrânea são excelentes, Bordeaux, como em quase todos os anos que terminam em 7, difíceis, idem para Borgonha e Alsácia. Champagne terá excelentes chardonnay e decepcionantes pinots noirs e meuniers. No Languedoc, Roussillon, Rhône e Córsega um ano excepcional.
Os tintos se sobressaem, como é característica da região. Destaque para Pic Saint Loup, Coteaux du Languedoc La Clape, Corbières, Minervois, Limoux, Saint Chinian e Fitou. Nos brancos e espumantes Limoux lidera como sempre.
Os alunos do curso de enologia tiveram o prazer de degustar alguns dos vinhos selecionados pela RVF como Toques e Clochers território Oceânico de Limoux, Roque Sestière cuvée Carte Noire dos Corbières, Château Rouquette sur Mer L'Esprit du Terroir e L'Absolut, ambos Coteaux du Languedoc La Clape. Um dos campeões na avaliação da RVF, foi o Domaine du Champ des Soeurs cuvée Bel Amant, Fitou. Elaborado por Marie Valette, professora do curso. É aquele papo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) "- E aprenda com quem faz". Sorte dos alunos de a terem como mestre.

9.6.08

Depoimentos dos alunos do I Curso de Enologia no Sul da França

Alunos posam para a posteridade com a professora Marie Valette ao centro de óculos.


Tenho recebido diversas mensagens dos alunos do Curso de Enologia e aproveito para as colocar no Blog, pois certamente devemos ter leitores curiosos em saber se foi realmente proveitoso o curso.
Sandra Brandão -" As experiências vividas serão, certamente, inesquecíveis."
Eduardo Paes - " Pelo jeito todos já estão com saudades de nossas aventuras na França e esperando novos cursos e oportunidades."
Heleno Miranda - "A Rogerio e à Edith um agradecimento de coração pelos dias que passamos juntos entre aulas, vinhas e vinhos."
Claudia Garcia Oliveira - " Momentos inesquecíveis foram vividos por todos nós... O aprendizado enológico junto a experiência de troca e comunicação com os professores e diretores do curso, os produtores locais e a nossa união com enoamigos do Brasil...super!
Cecilia Maria Ferreira Leite - " Também já com saudades da experiência maravilhosa."
Sônia Motta - " Mais uma vez quero ressaltar os momentos maravilhosos que passamos. O grupo foi especial. As experiências vividas e os conhecimentos compartilhados são inesquecíveis. Agradeço a todos pelos fantásticos 15 dias."
Fatima Alves de Carvalho - "Ainda estou em "estado de graça" pelo ótimo período que passei no Languedoc. Foi muito bom."

6.6.08

O mercado mundia II. Pergunta do André.







Pergunta do leitor: Rogerio, faltou aí mostrar o quadro da produção mundial. Se comparar o volume produzido no velho mundo e no novo mundo e o market-share mundial, a Europa continua perdendo feio.
André sua pergunta é interessante e se vamos falar de produção mundial e exportação mundial, devemos ver como vai o consumo em cada um desses países. É este o calcanhar de aquiles do velho mundo. É queda no consumo de vinho em França e Itália que provoca a mudança de perfil na comercialização dos vinhos europeus. Saiba que muitos vinhos consumidos na França não são vinificados iguais à versão exportada. Vamos aos quadros.
Amanhã em mais.

5.6.08

Folga em homenagem ao tricolor

Hoje o Blog tá de folga comemorando a goleada e a consequente classificação tricolor. O Fluminense se comportou como um time de bravos e com muita técnica e inspiração eliminou o Boca. Saudações tricolores a todos. Amanhã eu volto.

4.6.08

A densidade de cultivo no Languedoc. O caso Baron'Arques.

Na foto vinhedo em alta densidade da casta merlot em Baron 'Arques.

Durante o curso de enologia vimos que a forma de condução característica do Languedoc, no que tange a densidade do cultivo, gira em torno de 2500 pés/ha a 4500 pés/há. Há uma média nos AOC de 3500 pés/ha e nos Cru de 4000 pés/ha. Mas quando fomos ao Domaine de Baron' Arques, em Limoux, fruto de uma joint venture entre a Baronesa Philippine de Rothschild (Mouton Rothschild, braço inglês da família) e da badalada cooperativa Sieur d'Arques, vimos uma técnica de cultivo típica dos grandes Bordeaux. A plantação em alta densidade da casta merlot com 8000 pés/ha.
Situada na parte menos alta da propriedade e num tabuleiro, a técnica deu bons resultados devido ao clima de Limoux, mais frio e úmido que a média do Languedoc. Já nas encostas e com mais altitude a opção foi por uma densidade de 3500 pés. Duas opções técnicas que mostram a diversidade do terroir de Limoux. Local excepcional para as castas merlot, pinot noir e chardonnay.
A união da experiência e tecnologia de Sieur d'Arques no Languedoc e a tradição e expertise "bordelaise" da baronesa nos ofereceram uma degustação de excelente nível. Destaque para o 2OO5. Aguardamos com ansiedade 2006 e 2007, anos que prometem.

3.6.08




No alto e acima a primeira turma do Curso de Enologia, à esquerda o merecido Diploma e à direita o L'Absolu do Château Rouquette sur Mer, AOC La Clape.
Ontem falei sobre o mercado do vinho, mas hoje volto a falar do curso de Enologia. Foi muito rico. Não paro de receber emails dos alunos agradecendo a qualidade do curso, das visitas e da recepção que tiveram. Foi gratificante. Mas que trabalho! Receber um grupo de 13 pessoas que vai seguir uma programação intensiva não é tarefa fácil. Apesar dos 48 anos de praia era marinheiro de primeira viagem.
Aulas, almoços, traslados, visitas técnicas, dicas de onde ir, tradução integral das aulas e conversas com produtores. Tudo programado e funcionando com perfeição no Sul da França. Ao final da prova os alunos puderam comemorar o esforço. Afinal, na véspera se reuniram todos no saguão do hotel e revisaram as duas apostilas. Passaram. Receberam em solenidade singela, das mãos da representante do Ministério da Agricultura francês, o diploma oficial do curso de Enologia. Com direito a carimbo federal, Marianne, e validade européia.
Muito legal foi ver que a seleção das visitas permitiu ter uma exata idéia de como se faz vinho no Languedoc Roussillon. Desde pequenos produtores fazendo vinhos artesanais e com poucos recursos, passando por propriedades médias com tecnologia de ponta e mesmo a maior unidade de engarrafamento do Aude e uma das maiores do Languedoc. O interessante é que todos os métodos e tecnologias permitiam fazer com que o vinho obtivesse o resultado final desejado pelo produtor.
No último dia visitamos o belo Château Rouquette sur Mer, que no segundo semestre chega ao Duty Free Shop brasileiro, hoje Dufry. Tivemos a grata oportunidade de provar o L'Absolu, o novo vinho da casa, que recebeu a única medalha de ouro,Regional Trophy, do Languedoc e uma das 16 da França no concurso da revista inglesa Decanter. Este ainda não está à venda nem na França. Joseph Morgan o pontuou entre 92 e 93 pontos.
Outra avant-première foi a degustação na cave da nossa professora a enóloga Marie Valette que produz vinhos em Leucate, AOCs Fitou (tinto) e Corbières (branco). A nova edição da Revue des Vins de France, o Morgan a comprou fresquinha em Paris, sobre a safra 2007, poupa apenas os vinhos do Sul da França e Sauternes. A grande surpresa dos alunos, sempre atentos, é que a cuvée Bel Amant do Château Champs de Soeurs, de Marie, recebeu uma das 13 melhores notas de toda a França - 18/20. Sorte dos alunos que degustaram a nova safra ainda com rótulo provisório.
Em outubro faremos outro grupo. Inscrições com a Tornaviagem.

2.6.08

A França e o mercado mundial do vinho


Participação no mercado mundial de exportações



A velha Europa lidera a produção mundial de vinho. França em primeiro com 51,7 milhões de hl, seguida da Itália com 49,6 e Espanha com 38,2. Na sequência EUA (19,7), Argentina (15,5), Áustralia (14,3), África do Sul (10,1) e Alemanha (8,9). China em 11º e Brasil em 12º (belo salto).
O que se vê nas estatísticas é que o rendimento médio do Novo Mundo é de 94,7 hl/ha em 2006 contra 53,9 hl/ha na Europa. Isto quer dizer que, na média, o vinho europeu tende a ser muito melhor que os do Novo Mundo. O europeu é, portanto mais caro, com menos artifícios químicos, mais verdadeiro. Vale lembrar que na França a pequena propriedade domina, o que é terrível para o marketing. Falta de verba, política de conquista de mercado desorganizada, escassez de marcas mundiais,... Para ilustrar basta ver que das dez maiores propriedades vinícolas do mundo apenas uma é européia (Codorniu- ES).
Talvez o consumidor do Novo Mundo prefira um vinho pasteurizado, onde todos os vinhos sejam iguais. Conceito que em marketing é muito mais fácil de trabalhar. O vinho moderno e de fácil consumo são para os debutantes. Quem evolui muda rapidamente seu perfil de consumo.
As mudanças que ocorrem na legislação francesa visam atender, em parte, este novo consumidor que tem dificuldade (muito compreensível) de saber qual das centenas de AOC ou Vin de Pays (VDP) ele deve escolher na prateleira. A mudança na legislação é para brigar sim, com o Novo Mundo, por este consumidor, mas não na faixa super premium. Chips (copeaux) só para Vin de Pays (varietais e regionais) na França. Se a legislação dos VDP e VDT (vinho de mesa) foi flexibilizada esta ocorreu para atender uma demanda de mercado na faixa inferior do segmento. Afinal, o custo da uva na Africa do Sul é de apenas 0,16€ por kilo de uva e na França 0,37€ por kg!
O que acontece no novo mundo é que lá há mais liberdade para se fazer o vinho do que no Velho Mundo. Foi isto o que o agricultor europeu pediu para poder disputar o mercado de primeiro preço em condições iguais.
Veja bem os líderes de exportação por volume são Itália(21,4%), Espanha (19,8%), França (17,6%) e Austrália (8,9%). Em valor a ordem é França (35,5%), Itáia (18,1%), Austrália (9,6%) e Espanha (8,2%). Se a França cresce pouco em volume nas exportações por outro lado vê subir seu preço médio por garrafa. Sinal de que o consumidor busca a qualidade quando compra um vinho francês. Olha a referência mundial se exprimindo.
No Sul da França, o Comitê Interprofissional do Vinho do Languedoc (CIVL) está construindo uma nova hierarquização dos vinhos do Languedoc, tendo na base da pirâmide a nova denominação de origem Languedoc. Seguido das demais denominações como Corbières, Fitou, Minervois... Acima destes os Cru Boutenac (Corbières) , Cru Berlou (Saint Chinian) e Cru La Livinière (Minervois). Aos quais devem se juntar La Clape e Pic Saint Loup, hoje ainda Coteaux du Languedoc.
A França reconquistou o mercado Inglês em volume com 23% do total seguido da Austrália que recuou para 19% e a Itália segue na cola desta com 15%.
Então tudo é maravilha na França e no Velho Mundo? Nada disto o esforço pela qualidade e conquista de mercado é duro e o viticultor tem sofrido. Quem trabalha mal a uva e o comércio perdeu muito mercado. Quem produz bem e sabe vender está bem melhor. Não são anos fáceis. Mas o esforço tem sido bem recompensado. Mas muito ainda precisa ser feito e revisto.
Só para terminar por hoje, só por hoje, a França exporta em Euros, moeda valorizada frente ao dólar americano. Os EUA são o 3º maior país consumidor.
Desculpem mas para quem gosta de bom vinho a França é a grande referência mundial seguida de Itália, Portugal, Alemanha (brancos) e Espanha.
Fonte: Viniflhor 2007