26.3.09

O vinho em jarra, taça ou vinho da casa


Aqui na França o vinho em restaurante é caro. Se numa deli ou supermercado podemos comprar um bom vinho a partir de 3€, uns 10 reais, no restaurante este não sai por menos de 15€ ou seja uns 45 reais. O restaurante francês, na média, remarca os vinhos de 400% a 500% do preço de compra e de 300% a 400% mais caro que na loja. O que vai colocá-lo num patamar semelhante ao preço do vinho praticado nos restaurantes brasileiros. Neste caso o custo França pesa mais que o custo Brasil. A jornada de 35 horas, o custo da mão de obra e o sistema de assistência social francês exercem sobre o vinho um custo que o coloca muitas vezes acima do preço praticado no Brasil.

No Brasil alguns restaurantes têm uma estratégia de mercado que foca no vinho. Por terem maior melhor giro dos produtos estão comprando melhor e vendendo com percentuais de apenas 60% a 150%, sobre o preço de compra, como os cariocas Artigianno e Montagú, muito abaixo do percentual praticado na França. O que democratiza o vinho e aumenta as vendas. Estes sabem trabalhar bem o vinho. Esta é a tendência que permite ao consumidor tomar bom vinho em restaurante.

Na França o vinho em “pichet”, jarra, é uma tradição. A boa qualidade média dos vinhos franceses permite oferecer um vinho para o dia a dia, aquele que tem nota entre 6 e 7, a bom preço. Uma jarrinha de 250 ml, custa em geral 4€, uns 12 reais. Medida certa para uma pessoa poder dirigir por aqui sem risco de multa. Muitos restaurantes oferecem vinhos de Denominação de Origem Controlada, o AOC, especialmente os do Sul da França de melhor relação qualidade/preço, também em jarra. Assim diversificam a oferta e melhoram a qualidade. Não se trata de vinho de garrafão, mas de vinhos qualidade que hoje são comprados em BIBs (Bag In Box) que permitem conservar o vinho por várias semanas depois de abertos. São em formato de 3 a 20 litros e poderiam se adaptar perfeitamente ao mercado brasileiro. Afinal, o vinho do dia a dia, tem metade do seu custo de produção na garrafa, mas você não bebe a garrafa. Como nos ensinou o ator David Niven. Outra boa opção em restaurante é a meia garrafa, 375 ml cada vez mais presente.

Ah, outra coisinha mais cara nos restaurantes franceses é a água mineral, 250 ml, que custa cerca de 4 euros, uns 12 reais. Mais caro que uma boa taça de vinho e mesmo preço de uma jarrinha. Qual a solução do francês, este pão duro incorrigível? Pede uma “carafe d’eau”, nossa velha e tradicional jarra de água da bica, mesmo em grandes restaurantes.

6.3.09

Redescobrir o velho mundo é preciso

Vinhedo às margens do lago Leman na Haute-Savoie (Alta Savóia).


Nos últimos vinte anos tivemos um amplo domínio dos vinhos chilenos e, mais recentemente, dos argentinos no Brasil. Essa hegemonia mexeu com o paladar brasileiro e nos afastou do velho mundo. Ficamos mais distantes da elegância e do vinho gastronômico, da diversidade de castas e cortes de uvas, de territórios onde solo, clima, método de condução do vinhedo e vinificação nos proporcionam prazeres radicalmente diferentes. Felizmente os tempos mudam e ocorre neste momento uma redescoberta dos vinhos europeus.

Entre as festas de final de ano visitei a Alta Savóia, (Haute -Savoie) nos Alpes franceses, a beira do lago Léman. Pude ter o prazer de provar vinhos que são cultivados numa região fria, onde a exposição ao sol é fundamental. Castas que não são cultivadas onde moro, no Languedoc, como a chasselas, altesse e mondeuse se destacam ao lado de outras mais tradicionais como pinot noir, gamay e chardonnay. Numa das noites, harmonizei um tradicional fondue savoiano, com um Château Ripaille, branco de uva chasselas, que se mostrou floral, ligeiramente nervoso e com notas de manteiga. Custou 21euros ou uns 65 reais e mereceu nota 7, como manda o figurino nesta faixa de preço.

O restaurante parisiense, na média, multiplica o preço de compra dos vinhos por 4 ou 5, ou seja, de 3 a 4 vezes mais caro do que na loja. À mesa, o custo França pesa mais que o custo Brasil. A jornada de 35 horas, o custo da mão de obra e todo o sistema social francês exercem sobre o vinho uma pressão, que algumas vezes, o coloca acima do preço praticado no Rio de Janeiro. Alguns restaurantes brasileiros têm uma estratégia de mercado focada no vinho. Por terem maior giro dos produtos, estão comprando melhor e vendendo com percentuais de apenas 60% a 150% sobre o preço de compra, como os cariocas Artigianno e Montagú, muito abaixo do percentual praticado na França. O que democratiza o vinho e aumenta as vendas. Esta é a tendência para quem quer vender vinho.

Qual a solução do francês, este pão duro incorrigível? Pede o tradicional pichet, jarra de vinho. A boa qualidade média dos vinhos permite oferecer esta bebida do dia a dia, aquela que tem nota entre 6 e 7, a bom preço. Uma jarrinha de 250 ml, medida certa para uma pessoa poder dirigir, por aqui, sem risco de multa, custa uns 12 reais. Muitos restaurantes oferecem vinhos de Denominação de Origem Controlada, o AOC, especialmente os do Sul da França, de melhor relação qualidade/preço, também em jarra. Assim diversificam a oferta e melhoram a qualidade. Não se trata de vinho de garrafão, mas de vinhos acondicionados em BIBs (Bag In Box), de 3 a 20 litros, que permitem sua conservação por várias semanas depois de abertos. Afinal, o vinho do dia a dia tem metade de seu custo de produção na garrafa. E não bebemos a garrafa, como brincou o notável ator David Niven. Outra boa opção em restaurante é a meia garrafa, 375 ml, cada vez mais presente.

Neste momento de alta do dólar a tendência é de que os preços dos vinhos do Chile e Argentina se aproximem dos preços europeus. A mágica é simples. O euro caiu em relação ao dólar e subiu menos que este em relação ao real. Nestes tempos de redescoberta dos vinhos do velho mundo isso será um estímulo à curiosidade do consumidor. Vale a pena aproveitar as ofertas de delis e supermercados do começo de ano já que estes estarão fazendo promoções de vinhos comprados no saudoso câmbio de 2008.
Originalmente publicado no Guia JB Vinhos. Versão integral.


3.3.09

O vinho brasileiro não se dá conta da sua importância

A famosa frase de D. João VI cai como uma luva para o vinho nacional “- Antes para ti que para qualquer um destes aventureiros”.



O vinho brasileiro, infelizmente, é caro. Uma pena. Muita tecnologia, equipamentos modernos, financiamento bancário com juros brasileiros, excesso de mão de obra no vinhedo e nas adegas e, acredito, que também o clima chuvoso que exige muito tratamento. Se o vinho brasileiro fosse mais barato, se este pudesse ser no mínimo a porta de entrada de consumo, o mercado seria bem maior para todos. Claro que haveria também lugar para grandes vinhos nacionais. Como há hoje para os espumantes. Incrivelmente de preço super competitivos e de boa qualidade. Se o espumante pode porque o tinto ou branco e o rosé não podem? Um rosé simpático num país quente como o nosso seria uma mão na roda.

Na Argentina um Chandon, tradição, está a 35 pesos na promoção e 46, na tabela, no supermercado Jumbo, um dos líderes. Taxa de câmbio: 1 Real = 1,5 Pesos

Antes que digam que defendo para o vinho brasileiro o papel único e exclusivo de vinho do dia a dia aviso- “não defendo este ponto de vista”. Quero mostrar que mesmo na França no século XX até os anos 70, enquanto Bordeaux e Borgonha construíam sua fama o Languedoc se enriquecia fazendo o vinho ordinário. Repito se enriquecia. O vinho industrial foi sinônimo de prosperidade na região até 1950. Época em que o francês consumia 100 litros per capita. Hoje tudo mudou e o Languedoc faz vinhos de excelência e continua tendo o melhor preço da França. O primeiro mercado é o interno e o primeiro vinho de cada um deve ser o nacional. Quando estes objetivos forem atingidos o vinho vai se vender em grandes volumes no Brasil e o vinho importado terá também um mercado muito maior.

O vinho brasileiro, neste momento, terá mostrado sua carta de visita e poderá vender, sem vergonha, vinhos caros e de alta qualidade pois, será ele que terá moldado o paladar do brasileiro. Como diria D. João VI “- Antes para ti que para qualquer um destes aventureiros”.