26.1.09

Padroeiro São Vicente castiga viticultor francês

Debate em Terra Vinea, na cave de Rocbère em Portel de Corbières, vendo-se à esquerda membros das confrarias gastronômicas vestidos a caráter.

Na última semana os viticultores franceses festejaram Saint Vincent, o seu santo padroeiro. Em plena quinta feira, dia de São Vicente, as chuvas começaram a castigar Bordeaux de forma implacável com ventos que atingiram mais de 190 km por hora. No Languedoc Roussillon os ventos de intensidade similar castigaram cidades e florestas. Árvores caídas, casas destelhadas, estradas, ruas, linhas de trem e aeroportos interditados. Borgonha onde ocorria a tradicional Saint Vincent Itinerante, que pela primeira vez acontecia em Chardonnay, na Côte Chalonnaise, a chuva torrencial impediu a festa ao ar livre. O vilarejo decorado lindamente com flores e bonecos vestidos de viticultores, para receber os manifestantes, tomou uma ducha de água fria que esvaziou o evento. Pelo visto a reza terá de ser mais forte e as preces mais constantes.As chuvas estão caindo na época certa, no inverno.
No Languedoc, como em outras regiões, nos festejos de Saint Vincent ocorrem debates, desfiles das confrarias, almoços festivos e degustação de vinhos. Um momento de encontro de produtores, autoridades públicas e população.

20.1.09

O vinho europeu vai mudar.




Se bem que o consumidor não vá perceber isto de imediato na prateleira o processo de mudança do vinho europeu começou, na França e no Languedoc Roussillon também. Guy Giva, presidente da Câmara de Agricultura do Aude, onde se situam as denominações de origem Corbières, Fitou, Minervois, Limoux, Cabardés, Malepère, Coteaux du Languedoc La Clape e Quatourze já mandou o recado aos vitivinicultores.
O novo regulamento comunitário europeu publicado em junho de 2008 foi definitivamente adotado na França e define a nova OCM, Organização Comum do Mercado viticultor. Dentre as novas medidas a reforma comunitária vai proteger as políticas de qualidade tradicionais e também estabelecer e garantir a proteção ao meio ambiente.
A classificação dos vinhos será mais simples como se pode ver na tabela acima. Passam a existir apenas duas grandes categorias os vinhos com Denominação de Geográfica (AOP e IGP) e os sem Denominação Geográfica (SEM IG).
Na França teremos os vinhos com Indicação Geográfica distribuídos em dois grupos os com Appelations d'Origines Protegées - Denominação de Origem Controlada (AOP) e os de Indications Geographiques Protegées- Indicação Geográfica Progetida (IGP) e os sem Indicação Geográfica.
Exemplos de AOP: Corbières, Fitou, Minervois, Limoux, Maurye Saint Chinian, Um vinho de IGP é o Vin de Pays d'Oc. O vinho de mesa, vin de table é sem IG.
Além da etiqueta vai haver mudanças na poda e no rendimento dos vinhedos. Amanhã eu conto mais.

15.1.09

Produção e consumo mundial crescem. França perde mercado.





A França produziu 485 milhões de caixas de vinho e a Itália produziu 552 milhões. É certo que no Languedoc, Bordeaux e Borgonha o produtor francês sofreu com a seca e obteve uma pequena colheita ao contrário dos seus vizinhos italianos. Junte-se a isto o prêmio da União Européia para a retidada de vinhas que atinge com força o Sul da França. Os franceses não vão reaver a liderança antes de 2012 segundo um estudo inglês realizado pela consultoria IWSR para os organizadores de VINEXPO. Mesmo prevendo um crescimento da produção francesa de 13% em 2009 até 2012 a produção deve diminuir e italianos seguirão na liderança.
A França não é mais o maior exportador em volume desde 2005 e em 2008 é a Espanha que assume a vice-liderança segundo a Federação de Exportadores de Vinhos e Espirituosos.
E mais: os italianos passaram a ser em 2007 os maiores consumidores de vinhos tranquilos do planeta ultrapassando os franceses. Mantidas as atuais taxas de crescimento os Estados Unidos devem assumir a liderança em 2011, novamente segundo o IWSR.
A queda do consumo do vinho na França é resultado da ação de fanáticos anti-álcool, avalia Robert Beynat, diretor geral de Vinexpo. "Eles se apoiaram notadamente com as recentes campanhas contra o consumo do álcool por mulheres grávidas. A queda deverá diminuir. Depois de encolher de cerca de 9% desde 2003 o consumo deve se retrair de 3% até 2012", conforme publicado no Le Figaro.

Mas não há por que se desesperar. A França ainda é a líder em exportação por faturamento com 6,7 bilhões de euros contra 4,4 bilhões da Itália. O crescimento de Espanha e Itália é sustentado por vinhos de mesa de baixo valor. A oferta de vinho francês é uma força para o futuro. Os consumidores ricos e exigentes irão privilegiar sempre os vinhos de maior qualidade, assegura o presidente de VINEXPO Xavier de Eizaguirre no Le Figaro.

No Brasil França cresce acima da média

No Brasil olhando os recentes números de 2008 segundo o consultor Adão Morelatto a França ocupa a quinta posição em volume, mas a primeira em vinhos tranquilos considerando se o preço médio do litro, que atingiu 6,78US$. A França aumentou suas exportações para o Brasil em 183,04% em 4 anos. Em 2008 obteve o maior crescimento ao lado da Itália, mesmo ficando ainda num distante 5º lugar com 4,54% em volume e 9,81% em valor.
Morelatto totaliza as exportações adicionando os espumantes e a classificação muda. Já que a França é líder em valor e assumiu este ano a liderança (aqui cito a UVIBRA dados até setembro 2008) também em volume.

1º - CHILE: US$ 50.972.837,00 - 27,47%
2º - ARGENTINA: US$ 40.448.796,00 - 21,80%
3º - ITÁLIA: US$ 28.840.437,00 - 15,54%
4º - FRANÇA: US$ 26.994.721,00 - 14,55%
5º - PORTUGAL: US$ 23.905.417,00 - 12,88%
6º - ESPANHA: US$ 7.202.831,00 - 3,88%

TOTAL: US$185.531.633,00 = 96,12%


Languedoc
Checando os dados do lado da Adouane (Receita) francesa, temos que em 2007 os vinhos de denominação de origem (AOC) do Languedoc Roussillon, de maior valor agregado, e de maior qualidade, tiveram um crescimento de volume de 112,25% e de valor de 86,63%. Enquanto que os vinhos de mesa, menor qualidade, tiveram queda de 26,91% de volume e de 18,77% em volume. Aguardamos 2008 para ver a performance do Sul da França no Brasil, mas com certeza cresceu acima da média francesa.


14.1.09

Itália passa França

Itália passa França e assume primeira posição como maior produtor mundial de vinhos.
Reflexo da pequena safra francesa e da retirada de pés de vinha? Foi a Itália que sofreu menos com o calor? Saiba tudo amanhã no Blog.

13.1.09

Sul da França eu recomendo. Parker e Robinson também.


O vinho é, por excelência, uma bebida do dia a dia, pelo menos aqui onde moro, no Languedoc, Sul da França, e na nossa vizinha Itália. No Brasil, beber uma taça de vinho às refeições está se tornando um hábito saudável. O vinho também é confraternização e alegria. Nessas ocasiões, quando grupos de amigos se reúnem para uma comemoração vale a pena fazer uma seleção de vinhos que atendam as exigências do prazer, façam bonito à mesa e não esvaziem sua carteira. Afinal, nada mais triste do que beber um vinho e se sentir enganado. Enganado no sentido de que se pagou caro demais pelo prazer obtido. Este engano pode se dar com vinhos da Toscana, Piemonte, Bordeaux, Borgonha ou Vale dos Vinhedos. O vinho vale o prazer que lhe dá, é sua escolha e seu gosto. No entanto, o tempo aprimora as escolhas e ensina a desfrutar todas as sutilezas dos vinhos.
Se você quer fazer bonito servindo um bom vinho francês, elegante, frutado, com taninos bem domados e equilibrado, ou mesmo espumantes de bolhas delicadas capazes de rivalizar com os melhores champagnes, sugiro a descoberta do Languedoc Roussillon. A maior e mais antiga região produtora da França vive um grande momento de redescoberta, inclusive na Europa. Seus vinhos, que até os anos 60 eram de baixa qualidade, sofreram uma grande transformação desde os anos 70 até os dias de hoje.
A erradicação da casta aramon e a retirada dos pés de carignan da planície, estes ainda existem nas encostas, onde dão excelentes vinhos. A volta da mediterrânea syrah, a chegada da chardonnay, merlot, cabernet, e outras cepas de qualidade deram um novo impulso à região. Junte-se a isto um rendimento extremamente baixo, o menor da França, melhoria nos métodos de condução dos vinhedos e vinificação moderna que recolocaram a região entre as preferidas dos franceses. A pouca notoriedade faz com que os vinhos sejam vendidos pelo seu preço real e não pela fama da marca. Os principais críticos mundiais, como o americano Robert Parker, os ingleses Oz Clark e Jancis Robinson têm recomendado entusiasticamente os vinhos do Sul da França.

12.1.09

Qual a melhor opção: cápsula de rosca ou rolha?


Se no mercado mundial a rolha está presente em 17 bilhões de garrafas a cápsula de rosca já pode se orgulhar de atingir a espantosa marca de 3 bilhões de garrafas. Na Nova Zelândia quase todos os vinhos são engarrafados desta forma e na Austrália 2/3 da produção. É verdade que estes países são menos apegados às tradições que os do velho continente. Mas os que utilizam a rosca possuem motivos técnicos para defendê-la. Segundo o basco Joel Elissalde, da cave Despagne, esta "permite guardar melhor os aromas e ao contrário do que dizem permite um bom envelhecimento do vinho. Hoje 20% da nossa produção é com cápsula de rosca. Em alguns lotes tínhamos até 8% de vinhos com o defeito do gosto de rolha (bouchonées), por isto a troca", afima Elissalde.
Os vinhos jovens, a serem bebidas em até 3 anos, devem mudar para a cápsula de rosca ou para a rolha sintética. Já os vinhos que exigem um envelhecimento maior continuarão a usar a suas boas e longas rolhas. No Brasil alguns Vin de Pays d’OC como o varietal, Reserve Saint Martin Pinot Noir, importado pela Nunes Martins já utiliza a rosca com sucesso.

9.1.09

Arte em um Bag in Box












O Bag in Box, BIB, ainda não pegou no Brasil. Infelizmente. Mas na França seu sucesso levou o Château Puech Haut, do Sul da França, a lançar desde ano passado uma série personalizada de seus BIBs. Pintados por artistas renomados e em forma de barrica eles conferem classe e charme a esta apresentação.
Os pequenos containêrs de 5 litros são em séries limitadas e até o momento 120 artistas participam da aventura, dentre eles Di Rosa, Calvet e Marc Guyot. Os BIBs viraram peças de coleção de aficionados. Arte e vinho caminham juntas no Languedoc Roussillon. Resta ver se Vincent Kieffer, da KB-Vinrose, importadora do Puech Haut no Brasil tem planos de trazê-los.
Quem sabe este ano o BIN emplaca no Brasil?

6.1.09

Alerta de José Augusto Saraiva, sócio da importadora Vitis Vinifera

Publico hoje um alerta do José Augusto, que retrata a insegurança para o investimento dos importadores em 2009 e a tentativa de criação de uma reserva de mercado para os vinhos do Mercosul no Brasil. Em defesa da livre concorrência quero que os consumidores escolham o que querem beber em condições similares de concorrência. Esta proposta fere mesmo os acordos internacionais da OMC. Um assalto ao bolso e ao prazer do consumidor.
Rogerio Rebouças

Prezados amigos do vinho

os tambores de guerra soam também por aqui.

Em sua recente reunião do dia 12 de dezembro, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados revelou uma estratégia comum de produtores de vinho e orgãos governamentais que coloca em sério risco a oferta e os preços de vinhos importados no Brasil. Vejam a seguir um resumo das propostas apresentadas:

A) Impostos
Desejam estabelecer uma taxa de aproximadamente R$ 5,00 por garrafa de vinho importado para substituir a cobrança do Imposto de Importação. Durante a discussão do tema, circulou a informação de que "alguns ministros não gostam ou não aceitam a idéia" e preferem manter a cobrança de um percentual, indicando que o mesmo deveria ser aumentado dos atuais 27% para 55% (isso mesmo, mais de 100% de aumento no Imposto de Importação).

B) Burocracia

Além de outras propostas, querem que:

1.os rótulos de vinhos importados contenham, em português, a classificação do vinho (por exemplo "vinho tinto seco"). Informação essa que já é obrigatória no contra-rótulo. Isso seria um desastre pois os pequenos produtores de vinhos extraordinários jamais poderiam criar um rótulo diferente para vendas de pequenas quantidades.

2.as garrafas ganhem um selo fiscal. Outra providência exorbitante uma vez que os impostos são cobrados enquanto as mercadorias encontram-se sob a guarda da Receita Federal. Isso obrigaria a que cada caixa fosse aberta no porto e os selos fossem aplicados individualmente. Podem imaginar o custo dessa operação?? Conhecendo a agilidade dos portos brasileiros, imaginam o tempo que isso ia exigir?

3. não seja aprovada a proposta do Ministério da Agricultura de abolir a retirada de garrafas para amostra, de acordo com um novo procedimento que viria a ser implantado visando a simplificação dos procedimentos de análise do vinho


Como podem ver, nenhuma das propostas favorece o consumidor. Todas implicam em aumento de custos, seja por via direta de impostos ou indireta de custos operacionais.

Creio de devemos levantar a voz contra essas mudanças.

Com a palavra, os consumidores.

Abraços


José Augusto Saraiva

5.1.09

Comprar vinho em supermercado não é pecado


Publicado originalmente no guia JB Vinhos do Jornal do Brasil

Pela primeira vez o Concurso de Melhor Sommelier da França, realizado em Perpignan, no Languedoc, teve duas mulheres na semifinal: Pascaline Lepeltier, compradora de vinhos do Rouge Tomate, de Paris, e Julie Dupouy, do The Mill, na Irlanda. Pascaline chegou à grande final onde se sagrou vencedor Manuel Peyrondet, do parisiense Taillevent. Este fato é um retrato final da mudança do perfil do consumidor na França.
Quando a mulher começou a ir às compras e escolher o vinho da casa o consumo mudou. Num passado não muito distante o consumidor francês se considerava, com ou sem razão, um especialista e escolhia seus vinhos baseado no prestígio das diversas Denominações de Origem Controlada (AOC - Appelation d'Origine Contrôlée). Hoje as mulheres e uma nova geração de compradores possuem uma abordagem mais intuitiva no momento da compra. O que exige uma clareza maior das informações sobre o vinho e sua harmonização.
Grandes marcas de vinho acolheram esse novo cliente e criaram variedades mais fáceis de entender e com sabores que pouco variam de safra para safra. Se por um lado é uma padronização de vinhos e gostos, de outro é uma porta de entrada suficientemente ampla para receber os novos consumidores e ampliar o mercado. Este segmento é composto notadamente de varietais e de AOCs básicos, de boa qualidade, bons preços e feitos para o dia a dia.
Mas vinho é paixão. Se as moças conseguiram chegar às finais do Concurso foi por serem, antes de tudo, apaixonadas por vinho. E o francês, conhecido por ser pão duro, é apaixonado por fazer grandes barganhas. Muitas vezes me aconteceu de tomar um belo vinho na casa de amigos e este me contar que pagou uma ninharia num supermercado. O francês faz questão de dizer que pagou pouco e que foi econômico. Talvez a escassez e a penúria dos tempos de guerra tenham ficado no inconsciente coletivo.
Comprar vinho em supermercado não é pecado. Foi-se o tempo em que os supermercados não possuíam uma boa seleção de vinhos, adegas centrais de estocagem, compradores especializados e profissionais preparados para orientar o cliente. No Hexágono, outra maneira de chamar a França, Michel-Edouard Leclerc, diretor geral da E.Leclerc, uma das maiores redes de supermercados, lançou o Foire aux Vins, literalmente feira do vinho, nos anos 80, hoje uma instituição nacional. Todos fazem sua feira, mesmo as melhores delis, empórios e sites especializados. Uma grande seleção de vinhos é colocada em promoção. São lançamentos, vinhos de prestígio, final de estoque e, claro, encalhes. No Brasil o supermercado carioca Zona Sul foi o primeiro a implantar, este ano, o conceito, com imenso sucesso. Lançou o encarte com o título de Festival do Vinho e promoveu dezenas de vinhos de importação exclusiva. O consumidor percebeu que a oferta era verdadeira e foi às compras. Cinquenta mil garrafas vendidas em apenas uma semana. O Festival veio para ficar.
O próximo passo para os melhores supermercados brasileiros é ir aos leilões de "vin primeur" (compra de grandes vinhos antes destes serem engarrafados) de Bordeaux, Borgonha e Limoux. Comprar produtos exclusivos, de alto nível e a melhores preços. Como faz há alguns anos o E.Leclerc, hoje o maior comprador de primeur de Bordeaux. Afinal, o mercado brasileiro está maduro para esta ousadia.