12.10.06

A Origem do Primeiro Brut do Mundo

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Foto: vinhedo em Limoux

Publicado originalmente em Vinho Magazine edição 71 - Fevereiro 2007

Quando se fala de vinho não é possível deixar de lado a história, uma história que conta a evolução de um povo e de sua cultura, especialmente em se tratando do Mediterrâneo, berço de inúmeras civilizações e religiões. Pois é lá que nasce uma bebida mítica: o Brut.

Em Limoux, Aude, sul da França, as vinhas foram plantadas primeiro pelos etruscos e gregos e posteriormente pelos romanos. São os veteranos legionários romanos que para ocupar a região recebem terras nas quais irão ampliar os vinhedos existentes plantando às margens dos rios. Os não Romanos não possuíam o direito de plantar nem a vinha nem as olivas. O vinho de Limoux vai ser exportado para Roma e ganhar fama como atesta Tito Lívio (59 AC.- 17D.C) em sua “História Romana”. As invasões visigodas e posteriormente francas vão devastar os vinhedos, nos ensina o enólogo Laurent Mingaud, diretor comercial da Cooperativa Sieur d’Arques-Aimery.
Será na Idade Média que monastérios e abadias serão fundados no Midi e que irão relançar a plantação das uvas viníferas. Os beneditinos fundarão nas proximidades de Limoux a abadia de Saint Hilaire.
Mingaud conta que a galeria oeste da abadia abrigava as adegas onde os monges vinificavam e estocavam seus vinhos. Foi aparentemente por acaso que os beneditinos produziram o primeiro brut. Um monge descobriu que o vinho branco que ele havia cuidadosamente fechado formava bolhas como se uma segunda fermentação se iniciasse. Foi com um pouco de sorte que a Blanquette de Limoux, o primeiro brut do mundo, nasceu em 1531. Documentos históricos de 1544 atestam que o Sieur d’Arques (Senhor dos Arcos), um poderoso senhor feudal do Razès, comemorava suas vitórias militares com a Blanquette.
Limoux vê nascer a Blanquette Ancestral, bebida pouco alcoolizada e suave, que tem uma segunda meia-fermentação na garrafa. Feita de uvas mauzac, chamada na região de blanquette, isto é, branquinha devido a sua cor clara.
Será somente duzentos anos depois que Dom Pérignon (1639-1715), também um monge beneditino, responsável pela cave da abadia de Hautvilliers, próxima a Epernay, irá desenvolver o método champenoise, hoje chamado também de tradicional. Seria apenas coincidência o fato de ambos serem da mesma ordem religiosa?, pergunta Mingaud. Dom Perignon, grande estudioso da enologia, irá buscar em Limoux o conhecimento necessário para desenvolver a Champagne, que terá uma segunda fermentação completa.
O que faltou então para que a Blanquette ficasse famosa como sua co-irmã, a Champagne? Com certeza a ausência de um autor, de um pai da descoberta, dificultou a comunicação. Outro fato importante é que em Saint Hilaire não houve um Dom Grossard, último sucessor da abadia de Hautvilliers, antes da revolução francesa, que deu frutos à sua imaginação criando os mitos champagne e D.Pérignon a difundindo a por toda a Europa. A distância da corte com certeza também foi uma componente geográfica determinante na época.
Hoje a Blanquette e o Crémant de Limoux, os dois brut da região, têm um longo caminho a percorrer para igualar a fama da Champagne, porém, a distância vem se encurtando tanto na qualidade quanto na comunicação e nas vendas. A segunda apelação de brut mais vendida nos Estados Unidos é o AOC Limoux, atrás apenas de Champagne. Claro.

Colheita foi excelente no Languedoc


Após um verão muito seco com raras e esparsas chuvas a colheita de brancos e tintos se deu de forma excelente. Maturidade, acidez, açúrares, potencial fenólico, tudo muito bom. Em razão da seca as doenças provocadas por cogumelos não atacaram as vinhas, as uvas estava todas sãs na hora da colheita. Agora é aguardar a vinificação e fazer o teste no copo já com o vinho novo. Vale lembrar que o primeiro "vin primeur" é do departamento do Aude, no Languedoc, sul da França, terra do Corbières, Fitou, La Clape, Limoux, Malepére e parte do Minervois.