16.6.08


Os alunos do I Curso de Enologia na França criaram raízes no Languedoc. E não é que a arte de trovador renasce em terras mineiras inspiradas pelo cenário medieval do Languedoc? A antiga arte que havia desaparecido durante a cruzada albigense ressurge na terra das montanhas, do ouro de outrora, do leite e dizem que hoje até vinho nos oferece .
Nossas aventuras em terras Ocitanas contadas em prosa e verso por nosso trovador de Cataguazes o aluno Heleno Miranda. Foto montagem em qualidade Tabajara, sou ruim nisso, com Heleno Miranda.

Diário de viagem
Pois eu trouxe o nosso livro comigo
E pus dentro o teu retrato,
para que ouvisses,
enquanto estudo e devaneio
em meio às parcelas do Languedoc.
E queria que o teu coração
de uvas e de aromas
suspirasse por mim, enquanto pastoreio
por entre vinhos e vinhas.
Depois de tantas horas de vôo
tua imagem sobrevive
e é teu pensamento
que me povoa.
Saiba que esses vinhateiros do Languedoc
têm a nossa alma de camponês
e discorrem sobre os seus vinhos purpúreos,
como falamos dos nossos amores.
Várias vezes tive vontade
de abraçar meus cúmplices de viagem,
mas permaneci sem voz, como um antagonista,
só porque ainda não tinha saído de Minas.
Mas deixa que eu copie o poeta
e diga sem frescuras que
"tu és o pão de cada dia
para a minha alma".
Ajoelhei-me, hoje, na Catedral,
perante o silêncio secular de Saint Hilaire,
como um prisioneiro destas pedras
e deste frio voluptuoso
que fermentaram o ancestral vinho espumante.
E quero te contar que, entre cascalhos e xistos,
que nascem em Fitou em Languedoc,
é onde Marie Vallete plantou e colheu seus vinhos
temperados por funchos, tomilhos e alecrins
e fermentados na sua alma sábia e generosa.
Elegi L’Entre Temps meu restaurante favorito,
especialista em foie gras mi-cuit à la figue
e que tem um Muscat delicioso;
Mas o Meli Mèlo é uma espécie de ministro
cátaro de todo o sul da França, farto e alegre,
com suas intrigantes e imaculadas
costelas d’agneu.
Todavia foi em Bages que jurei,
para o mar que batia nas minhas costas,
que te traria no Le Portanel,
para oferecer aos teus olhos
a visão mediterrânea
de enguias, ostras e alfaces.
O meu melhor vinho?
Foi um 98, feito pelas mãos
e pela história de Rémi Bonnet,
filho da terra, folha de outono,
púrpuro como os outros do Pays de L’Aude,
mas com a entonação exclusiva
da alma do Minervois la Livinière, em Cesseras.
Finalmente, quando eu for,
irei sonhando com a tua boca
preparada para o meu beijo.
Estarás perplexa e eu radiante,
(te levo um diploma)
depois beberemos e terei saudade.
Ah, sim! Em Narbonne,
Quem sobe pela rua 1er de Mai
e chega à Place Sarbone,
há de ver uma casa alta com paredes amarelas,
onde imprimiram um poema, de Charles Trenet,
em letras vermelhas, e cujos primeiros versos eu traduzo:
"Há muito, muito tempo, depois que os poetas se foram,
as suas canções ainda correm pelas ruas.
A multidão canta, distraída, essas canções,
ignorando o nome do autor
e sem saber por quem batia seu coração..."
Te vejo depois de amanhã, um beijo.
Narbonne, 30 de maio de 2008

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