15.8.08

Veja e suas meias verdades


Thomaz Favaro,

Sua reportagem sobre a crise vitícola no Languedoc Roussillon, Sul da França, tem algumas imprecisões. A região desde os anos 70 iniciou seu trabalho de melhoria de qualidade e hoje possui vinte e nove denominações de origem controlada (AOC), sendo que duas intituladas de Cru, a Minervois -La Livinière e a Corbières-Boutenac. Uma grande denominação de origem genérica foi criada em 2007, a AOC Languedoc, tal qual existe em Bordeaux. Portanto, existem três níveis de hierarquia. O Languedoc é o terceiro maior produtor francês de vinhos AOC à frente de Champagne e atrás de Bordeaux e do Rhône.
A região passou por um grande processo de transformação com melhorias de castas e mudança nos métodos de condução do vinhedo. Hoje seus vinhos de origem controlada possuem rendimento por hectare inferiores a Bordeaux, Borgonha e Champagne. Existem dezenas de vinhos do Languedoc pontuados por Robert Parker com mais de 90 pontos. Inclusive alguns ”vin de pays”, (vinhos regionais ou varietais) como a cuvée Mythique, que obteve 92 pontos em 1998. Menos de 17% dos vinhos do sul da França são “vin de table” (vinho de mesa), 61% são varietais, chamados de “vin de pays”. É importante saber que na França se o viticultor não usar determinadas castas, seu vinho por melhor que seja não pode ser classificado como AOC. A venda de AOCs do Sul da França cresceu de 112% em volume em 2007 no Brasil e de 86% em valor com relação ao ano anterior.
A crise regional tem origem também nas dificuldades impostas pela legislação francesa, o que não ocorre no Novo Mundo. Exemplo é a interdição de irrigação para os AOCs mesmo em períodos de seca acentuada. Outra dificuldade é que as cooperativas, na sua grande maioria, investiram em tecnologia e melhora da produção, mas esqueceram de investir no marketing e no setor comercial e exportação. Eis a verdadeira origem da crise.

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